Projetos Técnicos de Engenharia e Arquitetura.

Não raro surge a necessidade de contratar um projeto técnico. Especialmente quando o assunto é moradia essa demanda aparece, contudo, geralmente representa uma etapa burocrática antes do início da atividade principal: a execução. Isso, porém, pode ser uma distorção na percepção da real validade do projeto técnico que subestima sua importância como instrumento de orientação à atividade de produção. Esclarecer os principais aspectos do bom projeto técnico e seu efeito sobre as atividades da execução e, também da operação ou uso (o pós-obra), são alvos desse artigo. Para atingir esse propósito o texto irá tratar do esclarecimento acerca dos projetos técnicos explicando sua definição e principalmente seu poder de integração do conhecimento e a sua capacidade de agregar valor ao negócio.

Se retomar a leitura do parágrafo anterior, nota-se o emprego do termo composto: projeto técnico. Bem, isso não se faz pelo acaso. Melhor emprego de termo seria “design” de engenharia ou desenho de engenharia (isso se aplica também as produções da arquitetura). Ocorre que, no Brasil, o termo projeto foi associado ao desenho técnico ou simplesmente desenho. Quando se observa outros países, a exemplo daqueles da língua inglesa, o termo Design é associado ao plano gráfico e o termo Project é associado ao projeto. Que diferença isso faz? Toda diferença. O projeto é um termo amplo (acepção de gestão) que envolve diversos elementos, entre eles o desenho técnico. De forma prática quando se fala de “Projeto do Edifício Z” isso remete a todas as atividades que serão integradas para atingir os objetivos de desenvolvimento do “Edifício Z”. Nisso estão incluídas atividades de compra, programação e controle da produção, contratos, e inclusive, todos os desenhos da engenharia e da arquitetura. Aqui, então, o termo projeto técnico é uma expressão de transição à utilização do termo design. É válido registrar a explicação do professor Ênio Padilha¹:

Um projeto técnico é um conjunto de informações organizadas sob a forma de imagens, desenhos, cálculos, gráficos, tabelas, diagramas, textos, etc. e tem por finalidade descrever antecipadamente todo o processo de transformação de recursos do cliente em uma obra ou equipamento planejado para uma determinada finalidade.

Os designs da engenharia e da arquitetura parecem passar por um período de desvalorização, ocupando hoje um patamar de atividade burocrática, o que confere valor de aspecto menor para o trabalho realizado por engenheiros e arquitetos, rebaixando essa produção a mera atividade de despacho. Salvo algumas disciplinas, que ainda recebem destaque pelo conteúdo técnico, o comportamento de simplificação dessa atividade vem reduzindo não apenas o custo de contratação, tão desejado por quem contrata, mas também está piorando sua qualidade, transferindo para execução um ônus financeiro muito maior que a economia na contratação desses desenhos, sem contar a necessidade de revisões pós-obra, denominadas “as-built” (se não forem aditivos, serão retrabalho para o escritório de projetos, reduzindo mais ainda sua margem). Retomando a explicação do professor Ênio, fica evidente que a finalidade do projeto técnico não é apenas servir ao cumprimento das exigências legais, especialmente à garantia do direito de construir. Nele estão (devem estar) reunidas informações suficientes e necessárias para instrução da atividade. O projeto técnico é, dessa forma, uma fonte de consulta e orientação para realização da tarefa, indicando melhores práticas segundo critérios de norma e legislação. O projeto técnico é um documento que atribui responsabilidade ao seu autor, o que confere a ele direitos pela autoria, mas também impõe obrigações que garantem ao usuário do projeto técnico defesa a danos provenientes de uma instrução equivocada.

Ao contratar projetos, o usuário está aderindo a um conjunto de procedimentos que irão conferir mais profissionalismo ao trabalho que será realizado. Mesmo quando a execução é acompanhada por profissional legalmente habilitado e capaz, o projeto técnico é necessário e útil. O objetivo do projeto é validar e entregar informação da prática construtiva servindo à consulta e instrução desse processo. Esse material apoia o desenvolvimento de mão de obra, uma vez que confere a produção um sistema para ser seguido. Isso favorece a identificação de desvios e minimiza a necessidade de decisões pontuais e desconectadas, atitude que geralmente afeta negativamente as atividades subsequentes.

Não poderia encerrar esse texto sem a breve conexão com a curva de custos de um projeto (Project). É no desenvolvimento do design de engenharia e de arquitetura que a curva do potencial para agregar valor com mudança é mais alta e o custo da alteração é mais baixo. A figura 01 representa esse comportamento. Nota-se que na fase de execução o custo da mudança recebe incremento acentuado e isso explica a explosão do orçamento.

Figura 01 – Comparação de curvas

Fonte: Adaptado de Mattos (2010)².

É necessário compreender que a avaliação de negócio na construção civil precisa ser sistêmica e ajustar as ferramentas gerenciais às especificidades desse mercado. A contratação de bons projetos técnicos é exemplo dessa postura para uma gestão profissional do negócio e dos riscos. Serão esses planos que acompanharão o empreendimento em todo o seu ciclo de vida. Neles estão todas as informações que servirão aos demais profissionais, a exemplo da equipe de planejamento, compras e vendas. O projeto integra todos esses profissionais e todo o conhecimento multidisciplinar. Os benefícios competitivos da atenção a essa etapa são significativos, justificando o custo de aquisição dessa atividade, que é pelo menos 2/3 menor que todo o desvio orçamentário que sua ausência ou baixa qualidade gera nos empreendimentos da construção civil.

Até mais.

Autor

Miguel J. Moreira

1. PADILHA, Ênio. ADMINISTRAÇÃO DE ESCRITÓRIOS DE ARQUITETURA E ENGENHARIA. 2. ed. Balneário Camboriú: Oitonovetrês, 2015.

2. MATTOS, Aldo Dórea. Planejamento e Controle de Obras. São Paulo: Editora Pini, 2010.